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AMOR IPSE INTELLECTUS

Amar é fugir à individuação.

Das Ich

«Já vivi em pessoas que morreram sem que alguém lhes tenha dado uso. Isso sim, é causa de ressentimento contra Deus.» MEC, A Vida Inteira, p.28

Aninhados vivemos encostados a sombras na Caverna, receosos do Sol lá fora e das memórias de amores infelizes.

Os dias passam e com eles o fio de azeite da vida que tempera a existência, que arrefece a lume brando face ao gelo do esquecimento.
Damos sentido às nossas vidas através de projectos solicpcistas...conceber, ajudar a nascer e criar os filhos...Passa a pessoa humana a ser uma extensão de propriedade...a criança um humano de estimação.
E os filhos dos outros, não merecem também o teu amor?
Se dás valor universal aos teus filhos porque são crianças, ama-los mais porque apenas são teus?
Que tens tu de tão especial que só os teus filhos porque são teus, são tudo para ti, e de bom grado matarias tudo na Terra, se isso lhes garantisse felicidade?!?
Certos amores de certos pais e certas mães para certos filhos, enoja-me como sempre me enojou. Esses amores são amores de pais para extensões de pais. O filho a filha são apenas apêndices, nesses amores.
Não se ama a criança pelo que ela é, mas pelo que ela é em relação a nós.
Assim vamos sonhando o desenrolar das nossas vidas com o nosso centro fora de nós. Ninguém merece a dádiva da paternidade neste miserável estado burguês.
Como formiguinhas tomamos o casulo como a galáxia, e nenhum homem é digno de o ser, quanto mais ser pai, se não enfrentar os grandes demónios que dormitam no seu subterrâneo. Foi ele o homem, feito para ser superado, já diz a História com todos os seus nomes de Crucificado.
Somos o mais sublime e ridículo momento, animais de pelo com o tempo preso no pulso.
O abraço não é terno nem franco, apenas a caricatura de si próprio.
O beijo não sai do tempo, apenas se esmaga entre as dermes.
Vivemos aninhados, encostados a sombras na Caverna, receosos do Sol lá fora, e do Sal das lágrimas, que corrói as lembranças de amores infelizes, cá dentro.

Vivemos aninhados no casulo com medo desses grandes demónios, dos nossos subterrâneos, suplicando para que não nos vigiem.
Nos recônditos, apenas a árida aragem do silêncio nos aguarda, como sepulcro de mosteiro.

Vivemos.
Aninhados no próprio afecto, encerrados em nós próprios, na louca mistura de guerra civil e masturbação.
Vivemos...
Pelos sonhos da Caverna, maravilhados pelos efeitos das Sombras.

A mulher é tão melhor e com superioridade moral se for também ela a extensão dos teus sonhos e projectos, e parte da tua propriedade.
O amor é condicional pela mulher topo de gama, e existe sempre um modelo acima.
Outros homens são julgados por ti de acordo com a mulher que trazem na ponta do braço.

Também os voláteis amores das fêmeas vão além da imagem. Requerem uma atenta paragem nas paisagens passadas e futuras daquilo que se quer tirar da vida.
O sujeito é o invólucro da minha aspiração. E existe sempre a possibilidade de vir a gostar dele.
Como bolhas ascendentes numa caneca frígida de cerveja, aninhados vivemos nas bolhinhas de convencional segurança, portos de abrigo a prazo de conta-gotas...protegidos que estamos da noite escura que se abate quando entoas as palavras 'Sabes lá tu o que é viver...

22 Julho 2008

Deriva

«Acompanho-a vinte e quatro horas por dia. Seja na forma de pessoas ou objectos. Ela tem uma vida interessante, mas não há interesse que aguente vinte e quatro horas de vigilância.» MEC, A Vida Inteira, p.11


Semi nú garatujo linhas pretas arrojadas para longe por um coração afogado em mágoa.
A mágoa magoa. Magoa mais que qualquer dor.
A mágoa é a alma do desespero.
Como transeunte esteta da vida, onde as estações passam ao ritmo dos orgasmos, vejo-me noutro dos meus desertos, olhando para toda a areia à minha volta.
Esmagado pela imensidão que me espera.
A busca pela vulva logo esmorece quando a encontro num qualquer oásis.
O oásis é só uma lágrima na cara seca do deserto.
No deserto ninguém quer permanecer.O oásis é ainda deserto.
O oásis é só ainda um ponto onde se passa para se prolongar isto do se estar vivo...
Permaneço ainda no deserto, de vulva em vulva. Que isto...já não é a mulher que me leva.
Oásis há, que pelo seu tamanho, pensamos que finalmente fugimos do mar de areia. Mas não.
Tantas almas e sem uma que chame minha.

A parte ética da vida também não me atrai.
Casar, constituir família...
A mágoa está tão dentro de mim, que desconfio que é terminal.
É Metafísica.
Hipermercado lista de compras, bicicletas tejadilhantes nos carros, grossas alianças estacionadas nos dedos...toda a liturgia não apresenta interesse para mim.
Estou cada vez mais só.
A palavra 'amor' sai cada vez mais impune pela minha boca, e nunca dela estive tão longe.

Foi-nos dada uma alma, e não fazemos a puta da mínima ideia do que fazer com ela.
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