«Como um cão eu vivi com cada uma das minhas raparigas.
«Senta!» , «Dá a pata!» , «Morre!» Fui muito bem treinado.
A obediência era a minha única maneira de exprimir o amor que, por falha humana, não sentia por elas.
Mas não era por isso que deixaria de lhes dar a melhor reprodução que um coração podia comprar. Não que convencesse alguém.
Mas chegou a haver quem se dispusesse a duvidar.» MEC p.140 Cemitério de Raparigas
Como é a entropia uma ideia apaixonante para o pensamento.
Especialmente acompanhada por uma teleologia em forma de drama épico de subúrbio.
Os anos pesam mais a uns que a outros, e essa diferença sabe por vezes a vingança saloia. Como se pela maior decadência do outro, ficasse consumada a sua errónea decisão de nos rejeitar, aquela pessoa que tanto fascínio sobre nós exerceu.
Parcelas de mundo tornamos e tornámos absolutas, que se desfazem como castelos de areia, não sem antes deixarem perdurável memória em forma de rasto que persiste e nem se adivinha bem.
Há várias formas de estar no «mundo», há só uma forma de estar no «mundo».
O tremer das mãos, o falir das pernas, o tremer dormente da voz, são concebidos no chão profundo do inconsciente.
Tudo por migalhas de amor. Tudo por um toque meigo e uma partilha de suór.
Nem a águia prescruta a profundidade do coração alheio.
O meu, este agora, olhar, é o olhar do pôr do Sol. A luz do Sol posto é a luz que relativiza. A noite já lá vem, assobiando a sua calma chegada, mas ainda é de dia, ainda há vida a latejar em murmurinho, nas esquinas dos edifícios, em surdina nos cafés.
E todo um caminho agridoce que fica para trás como testemunho da nossa vida, e no ponto onde chegamos ficamos sem saber se somos nós ou a consequência da viagem.
A Vera que desde que me tirou os três não me sai da cabeça, levou duas fodas mal dadas, encornando levemente os namorados que eu desconhecia, está...
Um farrapo. Os anos e a vida que leva já pesam na carne e na pele. O casamento com que alegremente encornaria de novo o marido, também faz das suas aos olhos e às rugas. Emagreceu, ficou mais marreca, cresce-lhe uma verruga no queixo, e ainda pensei levas mais uma foda, de compaixão, pois parece que estou eu agora na mó de cima...Eu não recuso vulva a não ser quando não tenho os tomates cheios até às têmporas, e aí prefiro sonhar com a paixão por um corpo saudável um rosto bonito, e uma história de amor, que isto o homem não vive só de pão, um conduto apimenta as coisas.
Confinada nas memórias tive remorsos de não ter insistido para que se sentisse desejada. Estou-me borrifando para o marido. Não tenho pena dos cornos, e a bem dizer ela era minha, nunca dele. Que fique com ela.
Senti-me com pena, e depois confinei-me ao pensar...cum caralho, coração dum cabrão, apesar do que ela te fez sofrer ainda te preocupas com os sentimentos dela...e é por isso que choro de amor...por amor.
A Ana e tantas outras que a precedem, e heis que o cemitério se amofina, atracções que não duram mais que uma vela para mim, e elas que me velam a mim, por debaixo da terra, desejando a eternidade.
Neste momento, sou uma só caravela navegando no deserto mar deixando um padrão em cada ilha que me permite desembarque.
Puta que pariu esta merda.
JCNF
Mar de Chumbo
- 10/06/2006 07:28:00 da tarde
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«Aquilo que eu escrevi era só um código secreto de mim para mim passando inutilmente por ti.
É que tu não tens nada a ver com isto. Tens tudo.Só que tu não sabes, nem vais saber, por isso são intrigantes, se alguém os leu, os meus rabiscos.»
PPaixão, VTDC, Dias de 1995
Mar de Chumbo
Caí do navio onde seguia, que seguia com ocultação de luzes, agora no lindo mar de chumbo, à noite, resta-me ver a sombra silhueta que se afasta deixando-me a esbracejar no meio de um mar onde as minhas mãos parecem tocar o céu prenhe de estrelas, se eu as levantar um pouco acima da água fria.
Só Deus sabe, Deus e o sonho, o que jaz debaixo de mim. A profundidade em que não entro.
Olho nos teus olhos à procura de amor eterno, como se a eternidade coubesse nuns olhos de um doce olhar relativo.
Resta-me tornar cada toque, afago, carinho, miminho, atenção, cada momento em que estamos juntos em epifanias de absoluto.
Só para mim. Só o consigo porque caí borda fora do navio em que seguia, e que agora já só vejo como sombra distante.
Só agora, que vejo a minha vida como silhueta, posso fingir eternamente que o ternamente em que me dou e te beijo é apenas absoluto.
Este fingimento é amor em acabar comigo entregando-me até que desapareço por completo.
Mas é fingimento, não é?Não estou ainda aqui escrevendo para ti?
Passo o dia pensando em ti, e é o Sal de um Mar Morto que me corrói a carne. Vou voando para junto dos braços que sonho serem teus, e é o calor do Sol que me derrete as asas.
À noite, pela calada, tento nadar para terra, mas faróis de azedume denunciam-me na água, e afastas-me com os teus medos que patrulham a praia.
Nos entretantos assim fico, vendo a minha vida passar, em ocultação de luzes...os teus faróis chamam-me para terra, para uma praia deserta de mim, onde sei que serei sovado.
Resta-me esbracejar à deriva, olhando a Terra onde estás, que é para onde quero ir, apreciando a colina onde a miragem de ti se forma...Apanhas o cabelo...
a tensão no teu corpo...a tua cara quando pareces dormitar, o teu toque no meu rosto, o teu cheiro no meu corpo.
Não congelo no meio do mar de chumbo polvilhado de estrelas porque saudades de ti crepitam nas minhas fornalhas derretendo a água soltando o sal que arde nos olhos com que vejo o navio da minha vida afastar-se.
JCNF
É que tu não tens nada a ver com isto. Tens tudo.Só que tu não sabes, nem vais saber, por isso são intrigantes, se alguém os leu, os meus rabiscos.»
PPaixão, VTDC, Dias de 1995
Mar de Chumbo
Caí do navio onde seguia, que seguia com ocultação de luzes, agora no lindo mar de chumbo, à noite, resta-me ver a sombra silhueta que se afasta deixando-me a esbracejar no meio de um mar onde as minhas mãos parecem tocar o céu prenhe de estrelas, se eu as levantar um pouco acima da água fria.
Só Deus sabe, Deus e o sonho, o que jaz debaixo de mim. A profundidade em que não entro.
Olho nos teus olhos à procura de amor eterno, como se a eternidade coubesse nuns olhos de um doce olhar relativo.
Resta-me tornar cada toque, afago, carinho, miminho, atenção, cada momento em que estamos juntos em epifanias de absoluto.
Só para mim. Só o consigo porque caí borda fora do navio em que seguia, e que agora já só vejo como sombra distante.
Só agora, que vejo a minha vida como silhueta, posso fingir eternamente que o ternamente em que me dou e te beijo é apenas absoluto.
Este fingimento é amor em acabar comigo entregando-me até que desapareço por completo.
Mas é fingimento, não é?Não estou ainda aqui escrevendo para ti?
Passo o dia pensando em ti, e é o Sal de um Mar Morto que me corrói a carne. Vou voando para junto dos braços que sonho serem teus, e é o calor do Sol que me derrete as asas.
À noite, pela calada, tento nadar para terra, mas faróis de azedume denunciam-me na água, e afastas-me com os teus medos que patrulham a praia.
Nos entretantos assim fico, vendo a minha vida passar, em ocultação de luzes...os teus faróis chamam-me para terra, para uma praia deserta de mim, onde sei que serei sovado.
Resta-me esbracejar à deriva, olhando a Terra onde estás, que é para onde quero ir, apreciando a colina onde a miragem de ti se forma...Apanhas o cabelo...
a tensão no teu corpo...a tua cara quando pareces dormitar, o teu toque no meu rosto, o teu cheiro no meu corpo.
Não congelo no meio do mar de chumbo polvilhado de estrelas porque saudades de ti crepitam nas minhas fornalhas derretendo a água soltando o sal que arde nos olhos com que vejo o navio da minha vida afastar-se.
JCNF
Paixão
- 10/04/2006 01:52:00 da manhã
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Paixão
Jurei ser teu, amanhecendo no fundo lago rodeado pelo castanho dos teus olhos.
Paixão, vendi-te a alma, uma vez de joelhos para sempre escravo servente, frágil andorinha consumida corroída pelo sal salgado do Mar Morto, e pelo Sol que Ícaro matou.
Preciso só mais de um chuto. Só mais uma dose. Ó ironia divina que nos dás um vício de masturbar defronte do espelho.
Sem ganhar nada, onde tudo se perde, a espiral é medonha e um homem aniquila-se em espiral no abismo.
Só mais uma dose.
Não há dealer a não ser a força pulsante que brota dos colhões até às têmporas, é o batimento cardíaco pulsar da vida cósmica.
O indíviduo pouco mais é que um sorriso de escárnio no meio do Caos e da Forma, e do Imensurável inominável. Sabemos ser algo para sabermos no fim que somos algo pouco mais que nada.
Arfa-me ao ouvido, respira para perto nas minhas narinas e cesso qualquer razão, exclamo o fim de meu corpo e de mim, na união suada e ritmada de dois corpos que mais não querem que deixar de serem unos mergulhando no caudal da dissolução corroídos por baixo pelo sal das lágrimas, por cima pelo Sol que cega, ilumina e derrete as asas de qualquer sonho.
Puta.Puta que te pariu. Como te amo. Como me controlas. Como me submeto em grilhões de veludo, em sonhos do porvir, em promessas de amor feliz, só mais um chuto.
E faremos birras e amor depois, e lirismos trágicos onde fingiremos profundidades e mensagens indirectas em títulos de janelas do messenger, ou despedaçando telemóveis contra a parede, em assomos de fúrias que nos arrependeremos quando velhos formos...e tanta vida pela frente e tanto amor por vir, dá-me só mais um chuto por favor, só mais uma dose de amor, para eu não ter que fugir.
Pelo passar das nossas idades, o cinismo, o sal corrói, queimando-nos por baixo roendo as entranhas, e damos connosco tão sérios em coisas tão estranhas, levando já o peso da memória não feliz do passado.
Sal, Sol, Amor. O chicote faz-nos dançar ao som do Bolero que nos embala.
O amor é fodido, ou nós é que o fodemos?
JCNF
Jurei ser teu, amanhecendo no fundo lago rodeado pelo castanho dos teus olhos.
Paixão, vendi-te a alma, uma vez de joelhos para sempre escravo servente, frágil andorinha consumida corroída pelo sal salgado do Mar Morto, e pelo Sol que Ícaro matou.
Preciso só mais de um chuto. Só mais uma dose. Ó ironia divina que nos dás um vício de masturbar defronte do espelho.
Sem ganhar nada, onde tudo se perde, a espiral é medonha e um homem aniquila-se em espiral no abismo.
Só mais uma dose.
Não há dealer a não ser a força pulsante que brota dos colhões até às têmporas, é o batimento cardíaco pulsar da vida cósmica.
O indíviduo pouco mais é que um sorriso de escárnio no meio do Caos e da Forma, e do Imensurável inominável. Sabemos ser algo para sabermos no fim que somos algo pouco mais que nada.
Arfa-me ao ouvido, respira para perto nas minhas narinas e cesso qualquer razão, exclamo o fim de meu corpo e de mim, na união suada e ritmada de dois corpos que mais não querem que deixar de serem unos mergulhando no caudal da dissolução corroídos por baixo pelo sal das lágrimas, por cima pelo Sol que cega, ilumina e derrete as asas de qualquer sonho.
Puta.Puta que te pariu. Como te amo. Como me controlas. Como me submeto em grilhões de veludo, em sonhos do porvir, em promessas de amor feliz, só mais um chuto.
E faremos birras e amor depois, e lirismos trágicos onde fingiremos profundidades e mensagens indirectas em títulos de janelas do messenger, ou despedaçando telemóveis contra a parede, em assomos de fúrias que nos arrependeremos quando velhos formos...e tanta vida pela frente e tanto amor por vir, dá-me só mais um chuto por favor, só mais uma dose de amor, para eu não ter que fugir.
Pelo passar das nossas idades, o cinismo, o sal corrói, queimando-nos por baixo roendo as entranhas, e damos connosco tão sérios em coisas tão estranhas, levando já o peso da memória não feliz do passado.
Sal, Sol, Amor. O chicote faz-nos dançar ao som do Bolero que nos embala.
O amor é fodido, ou nós é que o fodemos?
JCNF
MEC/AF; 14; pag. 138
- 10/02/2006 10:41:00 da manhã
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"Em vez de nos virmos, vêm-nos lágrimas aos olhos"
Acredito por vezes ser um excelente actor, incapaz de viver 100% na honestidade (e digo eu que sou um homem de espinha), não posso expor a minha carne, os musculos, as artérias, é da natureza humana ver um peito aberto, um coração ali, a bombar em toda a força e, ir lá com as mãos e mexer, não posso expor-me assim.
Por isso finjo, a respiração que inspiras, os braços que te envolvem, os dedos que te tocam na pele, as mãos que te percorrem, o nariz que te enala, adoro tocar-te na face, tenhas a face que tiveres. Por isso fica, ficam pedaços de tudo que é teu, a minha pele continua a ser pele, porosa, absorve-te e espalha-te, tenhas ou não veneno (as minhas veias irrigam melhor com veneno).
Apercebo-me que sou um péssimo actor, que vivo tudo, que senti cada toque, cada expiração e inspiração do teu peito, que te respirei, que te quis conter em mim, que me quis semear no teu peito, que cresceste no meu, uma forma de nada, pois não tive nada, tão cheia. A ressaca fisica do toque, a mais dolorosa das faltas, o toque, tenho tudo concentrado na ponta dos meus dedos, na palma das mãos, nos lábios, tudo o resto do meu corpo é público, estes são o palco, tu, és só gestos na minha cabeça, não há voz, há a maneira como fazes as coisas, até como fazes soar as palavras, és um mundo de pequenos pormenores em cada poro da minha pele e, como tu sabes, a pele também respira...
O amor é fodido, por isso vem e, cala a minha boca com a tua.
Nuno
Acredito por vezes ser um excelente actor, incapaz de viver 100% na honestidade (e digo eu que sou um homem de espinha), não posso expor a minha carne, os musculos, as artérias, é da natureza humana ver um peito aberto, um coração ali, a bombar em toda a força e, ir lá com as mãos e mexer, não posso expor-me assim.
Por isso finjo, a respiração que inspiras, os braços que te envolvem, os dedos que te tocam na pele, as mãos que te percorrem, o nariz que te enala, adoro tocar-te na face, tenhas a face que tiveres. Por isso fica, ficam pedaços de tudo que é teu, a minha pele continua a ser pele, porosa, absorve-te e espalha-te, tenhas ou não veneno (as minhas veias irrigam melhor com veneno).
Apercebo-me que sou um péssimo actor, que vivo tudo, que senti cada toque, cada expiração e inspiração do teu peito, que te respirei, que te quis conter em mim, que me quis semear no teu peito, que cresceste no meu, uma forma de nada, pois não tive nada, tão cheia. A ressaca fisica do toque, a mais dolorosa das faltas, o toque, tenho tudo concentrado na ponta dos meus dedos, na palma das mãos, nos lábios, tudo o resto do meu corpo é público, estes são o palco, tu, és só gestos na minha cabeça, não há voz, há a maneira como fazes as coisas, até como fazes soar as palavras, és um mundo de pequenos pormenores em cada poro da minha pele e, como tu sabes, a pele também respira...
O amor é fodido, por isso vem e, cala a minha boca com a tua.
Nuno
Saudações
- 10/01/2006 11:03:00 da tarde
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Saudações caros blogonautas
Marcos dos anos 80 e 90 no nosso Portugal querido, Miguel Esteves Cardoso( doravante MEC) e Pedro Paixão(doravante PP), são leitores e autores da nossa predilecção.
Eu prefiro o MEC, até porque tanto quanto sei, não está zangado com a humanidade. Aguardo que PP se deszangue com a Humanidade, que eu não gosto de falar muito com quem está zangado comigo enquanto parte de um todo abstracto.
O MEC tem andado desaparecido dos escaparates, e a única forma que tenho de matar saudades dele, é vendo as suas filhas, e se ele algum dia ler isto, peço desculpa se me passou pela ideia de ser seu genro, mais, as suas grandes obras, não são literárias.
Este blog, justifica-se como um comentário humilde e ligeiro a dois autores que respeitamos, apesar de um deles ser monárquico, e que apreciamos imenso. Penso até, que a partilha das Letras levanta para mim uma questão acerca da doce amargura, da visão de ambos sobre o amor.
Por amor a MEC e PP, os autores de livros, os leitores da Vida.
E porque as mulheres gostam. Um hino em sua honra.
Bem hajam.
Marcos dos anos 80 e 90 no nosso Portugal querido, Miguel Esteves Cardoso( doravante MEC) e Pedro Paixão(doravante PP), são leitores e autores da nossa predilecção.
Eu prefiro o MEC, até porque tanto quanto sei, não está zangado com a humanidade. Aguardo que PP se deszangue com a Humanidade, que eu não gosto de falar muito com quem está zangado comigo enquanto parte de um todo abstracto.
O MEC tem andado desaparecido dos escaparates, e a única forma que tenho de matar saudades dele, é vendo as suas filhas, e se ele algum dia ler isto, peço desculpa se me passou pela ideia de ser seu genro, mais, as suas grandes obras, não são literárias.
Este blog, justifica-se como um comentário humilde e ligeiro a dois autores que respeitamos, apesar de um deles ser monárquico, e que apreciamos imenso. Penso até, que a partilha das Letras levanta para mim uma questão acerca da doce amargura, da visão de ambos sobre o amor.
Por amor a MEC e PP, os autores de livros, os leitores da Vida.
E porque as mulheres gostam. Um hino em sua honra.
Bem hajam.
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